Havia um costume antigo no sertão brabo. Da cria do gado, livrava uma cabeça a viver no mato. O tempo rodava e rodava, até os vaqueiros da ribanceira se reunirem para caçar o boi que foi solto. Esse boi era o Barbatão. Findada a empreitada, retornavam o bicho de volta ao pasto como um boi selvagem e resistente que somaria força e saúde às novas linhagens dos rebanhos – e o ciclo se repetia.
Barbatão também é o nome do estúdio que oferta a minha força de trabalho sob demanda em design, gestão de marca e ilustração para projetos, produtos e iniciativas. Além de estúdio, é um acúmulo de mais de doze anos de vivências e imersões dentro da indústria criativa. Através desse boi selvagem eu me aventuro dentro das paisagens dos imaginários para trazer soluções e propósito àqueles que encontro pelo caminho.
A melhor solução
Nesses mais de doze anos, tive oportunidade de trabalhar na iniciativa privada, no setor público, em ONGs e em institutos respeitados dentro de suas áreas de atuação. Também compartilhei experiências junto a jovens empreendedores, artistas e outros designers. Estive na linha de frente de operações em escala global, nacional, regional e local. E também me juntei a inúmeras pessoas queridas para auxiliar seus sonhos e projetos pessoais no desabrochar dos primeiros meses de existência.
O que me conforta e ainda impressiona é que em todas as jornadas, todas as viagens, a travessia é a mesma.
Eu acredito que o trabalho de um designer não deve trazer soluções definitivas. Um designer sempre está diante de uma situação problema. Ele realiza investigações, levanta diagnósticos, constrói a visualização da situação problema e implementa a melhor solução específica para aquele contexto. Esse movimento é contínuo e dinâmico, onde é almejado o aprimoramento de um sistema/produto.
Não trazemos a melhor solução – nós almejamos a solução plausível, pautada pela responsabilidade e pelo compromisso ético de compreender e prezar por todos os agentes envolvidos naquele contexto.
Sigo aberto a novas compreensões sobre este saber-fazer, mas me atrevo a dizer que trabalhar dessa forma me incentiva a nutrir respeito por tudo aquilo que nos rodeia. Diante da crise ecológica e socioeconômica acarretada pela nossa passagem por este planeta, transcender “soluções industriais” é uma tarefa árdua que a nossa geração terá de levar adiante, aprofundando-se cada vez mais. O gesto de projetar deve levar em consideração a celebração da vida e da dignidade humana antes de qualquer coisa. Estas são tônicas que me acompanharão nas viagens ao lado deste barbatão.
Prego torto, ponta virada
Essas idas e vindas me lembram a historinha dos barbatões e dos vaqueiros nordestinos. Festejos e rituais foram realizados ao longo da nossa história em busca de cumprir esse ciclo de aprimoramento. São histórias que envolvem os ciclos da natureza, a cultura do trabalho e a luta por sobrevivência. Tanto é que a figura do boi selvagem (transformado em versos de cordeis e letras de canções) me encanta profundamente. Nela vislumbro uma espécie de reflexo do ofício de onde tiro meu sustento. É algo bastante especial.
Uniu-se o lé com o cré, e se acendeu um letreiro luminoso diante dos meus olhos:
“Por que não chamar o estúdio de Barbatão, ora?”
Deu bom.
Veio o ano de 2021 amanhecendo no meu coração o compromisso de “materializar” essa força e formar as bases. Diante de tantas transformações na minha vida, bateu firme no meu peito um desejo de conhecer pessoas e diferentes realidades através do trabalho, de possibilitar novas soluções para seus problemas através do design e de se aventurar no mundo. Esse movimento também diz sobre valorizar a própria vida, a própria jornada, e participar de novas experiências na insistência em manter-se curioso em relação ao mundo que me cerca.
Iniciar este estúdio é uma afirmação a tudo isto que desnudei nestas últimas linhas.
Tenho respeito aos que já participaram da minha história. Mantenho orgulho dos que estão ao meu lado e permanecem comigo. Guardo um sorriso aos que ainda irei conhecer. E aos problemas e demandas de design que estão pairando por aí, toda a minha curiosidade e meu empenho.
Ao que passou, ao presente e ao futuro, as minhas palavras e o meu barbatão – o boi com nome de sonho.
Até breve,
Yuri.
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